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A inserção no mercado afeta o conhecimento tradicional sobre os recursos vegetais?

Por Joecio Sousa*

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     
    As produções manuais de comunidades tradicionais, especialmente as artesanais, são elementos culturais e econômicos de extrema relevância e, comumente, é por meio da comercialização desses produtos que esses povos se inserem dentro do mercado econômico regional. Dentre as principais matérias primas utilizadas para a confecção de suas mercadorias tem-se o uso dos recursos ambientais disponíveis no seu entorno, como, por exemplo, uma reserva indígena, reserva extrativista, etc. Contudo, a inclusão nesta lógica mercantil pode influenciar tanto o bem-estar desses povos, bem como também o seu conhecimento tradicional ecológico.  


   Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos da UFPE ao investigarem sobre as influências da inserção de comunidades de nativos brasileiros do grupo étnico Fulni-ô, nos mercados regionais observaram que tal evento não gera pressões fortes sobre o conhecimento ecológico tradicional deste grupo, mas sim sobre os recursos vegetais dos quais servem como matéria prima para a confecção de artefatos principalmente em decorrência da demanda externa.


       Os autores observaram que artesãos com maior experiência na confecção de artesanatos são mais conhecedores de técnicas tradicionais e, portanto, reservatórios do conhecimento da cultura Fulni-ô, enquanto os menos experientes (que se dedicam a outras atividades profissionais) conhecem mais técnicas não-tradicionais. Enquanto estas últimas, por sua vez, são responsáveis pelo maior consumo de biomassa vegetal quando comparada às primeiras, e a mais rentável economicamente. 


       Entre as principais espécies utilizadas e os artesanatos produzidos, os autores observaram que algumas espécies são utilizadas exclusivamente para a produção de artesanatos tradicionais, como Syagrus coronata (oricuri) da qual são manufaturados cestos, bolsas e vassouras; Anadenanthera colubrina (angico-branco) utilizada para confeccionar a xanduca (cachimbo); e por fim a partir das espécies Cucurbita sp. (abóboras) e Crescentia cujete (coité) são feitas o maracá e o cantel (um tipo de garrafa de água). 


      Já para os artesanatos não-tradicionais são utilizadas as espécies Capparis flexuosa (feijão-brabo) para a manufatura de uma xanduca mais elaborada, arcos e flechas;   Coutarea hexandra (quina) praticamente utilizada exclusivamente para se fazer o arco e flecha;  Guadua sp. utilizada para se fazer a arma de sopro e Erythrina velutina (suinã) usada para se confeccionar colares e brincos. 


      Apesar das técnicas tradicionais serem menos rentáveis nos mercados locais, os artesãos fazem uso de seus conhecimentos para a exploração de alguns recursos vegetais a fim de suplementar suas rendas. Apesar dos autores terem observado que a inserção nos mercados econômicos regionais da comunidade étnica Fulni-ô não gerar perda de conhecimento ecológico tradicional de imediato, acredita-se que ao decorrer do tempo e em consequência da dinamicidade das mudanças, os artesãos mais jovens podem priorizar mais as técnicas não-tradicionais em detrimento das tradicionais, provocando a substituição desses conhecimentos. 

 

 

Abaixo você encontra o link da página em que o artigo foi publicado.

            2019

 

 

Market integration does not affect traditional ecological knowledge but contributes additional pressure on plant resources. Acta Botanica Brasilica

Temóteo Luiz Lima da Silva, Juliana Loureiro de Almeida Campos, Ângelo Giuseppe Chaves Alves, Ulysses Paulino Albuquerque. 

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062019000200232

 

 

*Joécio Sousa possui graduação em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal do Piauí (2013). Mestre em Biodiversidade e Conservação na Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade de Serra Talhada (UFRPE/UAST). Possui experiência com estudos ambientais, licenciamento ambiental, gerenciamento de resíduos sólidos, Planos de Saneamento Básico, com ferramenta de Sistema de Informação Geográfica, na elaboração de mapas de localização, modelagem de uso e cobertura da terra, índices de vegetação (NDVI). Foi estagiário na Superintendência de Meio Ambiente da Águas e Esgotos do Piauí-SA, AGESPISA. 

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1617178819319314

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