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Como as pessoas lidam com doenças?

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Lidar com doenças é extremamente importante para a sobrevivência humana durante sua história, por isso, a medicina foi e continua sendo uma das práticas mais relevantes para a humanidade. Ao longo do tempo essa prática foi se aperfeiçoando e gerou cada vez mais conhecimentos, implementando novas tecnologias e as aprimorando, além de elaborar medicamentos mais eficazes. 

As diferentes formas de lidar com eventos de doença podem ser agrupadas em dois sistemas: o sistema médico cosmopolita (SMC) — relacionado ao modo global de lidar com problemas de saúde, baseado em métodos cientificamente validados — e sistemas médicos locais (SML) — que são práticas médicas tradicionais que foram geradas pelo desenvolvimento de estratégias ligadas à melhoria da saúde em pequenos grupos humanos, como os povos indígenas, por exemplo. 
         Alguns cientistas argumentam que esses dois sistemas médicos não são isolados, o que pode produzir grande variedade de tratamentos de doenças por uma população humana. O acesso aos meios de tratamento do SMC — normalmente mediados por órgãos de governo — por populações de pequenas comunidades pode, por exemplo, modificar a forma como essas pessoas lidam com doenças, por meio de ajustes das práticas de saúde locais às formas externas de tratamento. Porém, não se sabe ao certo quais fatores influenciam as pessoas a adotar um novo tratamento — vinculado ao SMC — para uma doença que eles já sabem tratar — por meio de plantas medicinais relacionadas ao SML —, e foi justamente isso que alguns pesquisadores vinculados ao INCT Etnobiologia, Bioprospecção e Conservação da Natureza tentaram entender.

        Os pesquisadores testaram se doenças que exigem maiores esforços de cura, como doenças graves e crônicas (por exemplo, câncer e diabetes) e doenças que ocorrem com muita frequência (por exemplo, gripe e inflamação) podem ser mais suscetíveis à adoção de novos tratamentos medicinais e favorecer a inclusão da medicina moderna nos SML. Para isso, utilizaram como modelo o uso simultâneo de plantas medicinais e medicina moderna para tratar doenças em uma pequena comunidade rural no interior de Pernambuco. Essa região foi escolhida porque nela existe uma unidade de saúde que oferece consultas médicas e distribui medicamentos modernos para os residentes. Porém, como os remédios demoram para serem disponibilizados e as consultas médicas não ocorrem com frequência, a principal forma das pessoas cuidarem da saúde continua sendo o uso de plantas medicinais.

Os pesquisadores descobriram que, de fato, doenças graves e crônicas, assim como a frequência de ocorrência de uma doença, tendem a influenciar a combinação de medicina moderna e plantas medicinais como tratamentos — ou seja, ocorre junção do SML com o SMC. Para os pesquisadores, combinar os tratamentos pode ser uma estratégia adaptativa dos seres humanos, pois aumenta o número de tratamentos para lidar com os problemas de saúde. 

O interessante desse estudo foi mostrar que o acesso a medicamentos modernos não necessariamente motiva populações humanas a abandonar o uso de plantas medicinais, e sim que, pelo contrário, a combinação de tratamentos pode resultar na preservação do conhecimento local, uma vez que os moradores adotam novas práticas em conjunto com práticas tradicionais. Para os pesquisadores, esse comportamento pode refletir um padrão que facilita a adoção de outras práticas externas relacionadas a saúde.

Abaixo você encontra o link da página em que o artigo foi publicado.

             2018               

 

Factors in hybridization of local medical systems: Simultaneous use of medicinal plants and modern medicine in Northeast Brazil 

PlosOne pp 248–257

André Luiz Borba Nascimento; Patrícia Muniz de Medeiros; 

Ulysses Paulino de Albuquerque

https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371%2Fjournal.pone.0206190&fbclid=IwAR20lDjAtii-2PSMpzLA-dltWSsBt7yQ3raC4qYBrf_clYph-XgYUQOwbJI

*Joelson Moura é doutorando em Etnobiologia e Conservação da Natureza (UFRPE) e integra o Laboratório de Ecologia e Evolução de Sistemas Socioecológicos (LEA) da UFPE. Tem como interesse científico a compreensão dos processos que contribuíram para a evolução da mente humana.

Lattes: lattes.cnpq.br/4073348755490283

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